sábado, 15 de maio de 2010

Porque não se escolhe quem se ama / Cont..

Quando Dudu chegou, Vera que foi atender o portão. Eles deram um abraço forte, e eu vi, que a briga boba deles, tinha ficado para trás. Depois Dudu falou comigo, mas não como antes, falou normal, um Oi apenas.
Ele trazia uma bolsa consigo, dizendo que tinha falado com a mãe de Vera, e sem ouvir o que ela tinha pra falar, ele saiu com as roupas pra ela ficar em algum lugar. E era óbvio que ela ficaria na minha casa por enquanto. A mãe dela acharia era bom.
- Eu acordei cedo, e fui lá pegar as coisas. Na hora que estava virando a esquina, Alê me liga. E agora, me responde, por quê você estava naquele estado ontem. Fazia quanto tempo que você bebia e não tomava banho?
- Faz dois dias. Quer dizer, fazia dois dias. Gente, eu tinha perdido a amizade de vocês. Eu estava sozinha, não estava ficando, namorando com ninguém. Então fui para aquele calçadão. Rolou beijo, drogas e bebidas, e quase sexo. Eu não estava normal, mas ficaria ali, até que alguém me aparecesse. Então, vocês me apareceram. Quer dizer, a Alê. Era só o que eu precisava. Eu realmente queria chamar atenção, dizer " OI, EU EXISTO!".
- Mas poderia ter me procurado. - eu disse.
- Desculpa gente. Desculpa. Espero que agora, possamos ser o que nós erámos antes. - ela estava chorando quando dizia isso.
- Vou limpar esses copos e pratos. - Dudu disse, se retirando da mesa. Com certeza ele não queria contar o que estava acontecendo.
- Amiga, temos muita coisa pra conversar.

Com aquilo, Dudu tinha me provado que nossa amizade, ele não queria mais. Não pelo menos a minha. Não queria mais nada no passado dele, nesse novo presente. Ele não queria, e com certeza Wendel também não ia querer.

Eu mesma acabei contando as coisas que andavam rolando nas últimas semanas para Vera, ela tentava me interromper, perguntando os "por quês", mas Dudu não deixava. Ele apenas ficava olhando as reações dela, que eram cada vez mais surpresas.
- Mas espera! Agora você deve parar tudo isso! Como estamos separados assim? Por que? Como você fez isso Dudu? Entre Alê e Wendel? - perguntava Vera, com as mãos na cabeça de tanta notícia.
- Ah, eu não tenho culpa. Ele estava na pior, eu era culpado em certa parte com isso. - tentava se explicar Dudu.
- Vera, isso não vem mais ao caso. Era isso que você devia saber. Eu tenho que tomar banho para ir pra aula. - eu disse, já subindo as escadas.

Meu quarto era um lugar que me deixava mais angustiada, ao invés de calma, como ele sempre fazia. Nem banho queria tomar. Queria fazer a mesma coisa que Vera fez, ir ali, e as pessoas sentirem pena de mim, e me tirar de lá. Vera foi socorrida. Eu fiz isso, Dudu fez... Wendel fez, por que não fariam comigo? Ah, já era loucura, não, esquece!
Desci as escadas com pressa, sem lembrar que eles estavam ali. Olhei para Vera, e ela chorava, mas meu horário não permitiu um minuto de consolo.
- Estou atrasada, qualquer coisa me liguem. Vocês sabem onde fica tudo aí, podem pegar. Beijos.

Assim que saí de casa, Karla passava de carro com a mãe dela, e me deu uma carona. Atrás estavam outras meninas que reconhecia os rostos na escola. Elas não eram garotas para conversar comigo, apenas falavam em shopping, roupas e academia.

- Elas realmente não fazem o teu tipo de conversa. - disse Karla quando saíamos do carro. As duas garotas já estavam mais na frente.
- Realmente. - eu disse, demonstrando dar interesse em uma conversa longa e feliz hoje.
- O que aconteceu ? Por que você está assim pra baixo ?
- Aim, nem eu sei. - não sei o que deu em mim, e joguei os livros no chão com raiva, e um desespero imenso de chorar.
As pessoas que passavam perto, me olhavam como se eu fosse a louca, o que realmente era o que se dava para ver, eu era a louca. Me deu vontade de gritar "O que estão olhando?", mas aquilo ia me deixar com mais aparência de anormal.
Apanhei os livros, antes que mais pessoas parassem e me olhassem da mesma maneira. Karla me puxava pelo braço, quando eu quase fui atropelada por uma motocicleta.
- Menina, tá louca ? Quer morrer é? - Karla parecia Wendel falando.
Que péssimo, agora tudo era ele.
- Seria bem melhor. Ao menos eu não ia ver quem eu tanto gosto me ignorando de um jeito mais estúpido.
- Mulher, vem comigo. Não vale chorar e falar da tua vida assim pra todo mundo.
Então fomos parar no banheiro. Eu sentada em um vaso chorando, e ela limpando minhas lágrimas.
- Vamos, o sino tocou. - eu dizia, sabendo que ia continuar chorando.
- Nada disso. Pedi uma menina pra falar ao professor que vamos chegar atrasadas. Não se preocupe. - disse Karla, ainda limpando a maquiagem que continuava borrada.
No banheiro, chorava contando o acontecido para Karla. Ela realmente queria me ajudar, mas como ela mesma disse, não sabia como. E haveria como? Achava que não.
Fomos pra sala na segunda aula, depois de eu tanto dizer que estava bem pra Karla. Achava engraçado que todos não sabiam nem disfarçar que olhavam para mim. Não sabia se era pelo estresse lá fora, ou se era por meus olhos estarem tão inchados de tanto chorar. Como era aula de história, eu fiquei conversando com Karla.
Estavámos lanchando quando Karla começou a sentir umas dores fortes, que não sabia explicar onde era. Ela começou a sentir na cantina, mas na sala, as dores pioraram. Eu acabei ligando para os pais dela, que chegaram em cinco minutos. Entrei tanto em desespero quanto eles, e pedi pra ir junto, mas claro, eles não deixaram. Pela rápida conversa com o diretor, eles falavam da doença que ela tinha.
- Claro! O câncer!
Fiquei mais nervosa ainda, sem saber como ficar, agir, o que fazer. As coisas dela ainda tinham ficado na escola, então fui atrás do número dos pais dela pra saber qual o hospital que ele iriam. No caderno não tinha, e o celular, estava no bolso da calça dela. Tentei lembrar das pistas, mas nada saia.
Já era para estar em sala, mas fui falar com alguém que conhecia bem ela. Para minha sorte, achei logo as meninas que vinham no carro com a gente de manhã, e elas disseram o hospital que o pai dela trabalhava.

Porque não se escolhe quem se ama / Cont..

Ainda parei duas vez com ela no caminho. Não aguentava o peso dela direto sobre mim. Ela de vez enquanto começava a chorar, e aquilo me matava, ver minha amiga se matando sem saber o por quê, e ela estar sozinha. Teve um momento que Wendel passou por nós duas no carro. Ele ia sozinho, bom, parecia, e pela primeira vez me olhou nos olhos. Senti que ele ia parar, e ele parou.
Eu na esperança dele vir me ajudar, quem desceu do carro, pela porta de trás foi Dudu.
- O que ela tem? - Dudu a pegava desesperada.
Ela o abraçou, assim como tinha me abraçado.
- Não sei. Eu achei ela assim no calçadão, e estou levando ela agora pra minha casa, dar um banho nela.
Eu via nos olhos de Dudu o desespero, e Wendel nos observando pelo retrovisor. Ele acabou descendo e vindo até o lado em que Dudu estava.
- O que houve? - ele perguntou para Dudu, sem olhar pra mim.
- Depois te explico. Vamos ajudar a Alexandra a levar ela pra casa, vamos?
- Claro.
Então os dois pegaram-na no braço, e a colocaram no carro. Eu não queria ir. Meu coração batia tão rapido e forte, que sentia que eles ouviriam.
- É, acho que vou a pé. - eu disse assim que eles entravam no carro.
- Vamos com a gente, sem coisa, venha. Estamos perto, e como chegaríamos na sua casa sem você ? - disse Dudu.
- Certo. - eu tive que ir no banco da frente.
Wendel era concentrado na pista. Devia esse fato por eu estar perto dele. Olhei para trás e vi Dudu alisando os cabelos, que antes eram lindos, de Vera. Ele chorava baixo, quase em silêncio. Ela fechava e abria os olhos direto. Quando me virei, olhei para Wendel, sem descrição. Meu coração apenas doía, e muito.
Quanto é difícil estar do lado de quem amamos tanto, sem poder fazer nada.

Chegamos em casa, e eles desceram logo com ela nos braços. Eu rapidamente abri a porta da minha casa pra eles passarem. Minha mãe olhava aquilo com medo, e enquanto eles subiam com Vera para meu quarto, eu explicava tudo a ela.
Quando subi, Wendel tinha colocado um lençol em cima da minha cama para que nada ficasse sujo. Eu olhei grata, como uma boba, como se ele ainda desse importância aquele meu sorriso que um dia ele tanto elogiou. Estavámos unidos ali, por uma desgraça, mas estavámos juntos novamente. Uma coisa que eu tanto esperei.
Será que se fosse eu ali, ele faria a mesma coisa? Fiquei nessa dúvida.
Eu e Dudu, nos encarregamos de banhar ela, enquando ele esperava na janela, sabe-se lá o que ele tanto pensava, lembrando que em todo esse tempo, ele nem falara oi pra mim.
Quando fui buscar uma toalha, olhei mais uma vez, desesperada que ele dissesse alguma palavra, mas não saia nada dele.
Entreguei a toalha a Dudu, e desci as escadas. Fiquei na cozinha, chorando como uma desesperada, que era realmente como eu estava, desesperada. Minha mãe me abraçava, mandando eu ter forças para aguentar, e só rezar para ela melhorar, como se fosse realmente por isso.
Logo depois, Wendel descia e disse a minha mãe dizendo que ia comprar umas roupas novas pra ela, e minha mãe disse que não precisava. Ele sabia disso, que eu teria aquilo, mas era só pra me insutar. Subi de novo as escadas, e ele vinha atrás de mim. nem ligava mais.
Com raiva, joguei várias roupas no chão, e procurei por uma frouxa para ela. Pena que a blusa que ele me dera um dia, não ia ficar confortável nela.
Acabei pegando uma de minha mãe e vesti nela. Ela nos olhava e revirava os olhos para o teto, com uma angustia enorme, que só quem estava ali saberia dizer a dor que causava ver aquela cena.
Eu pedi a Dudupara buscar uns comprimidos que tinha no armário da cozinha, que a faria dormir. Ficamos Wendel, Vera , que já nem contava por sua total falta de conciência, e eu. Eu não aguentava mais o silêncio do meu coração e falei.
- Por que você agi assim comigo ? Por que?
- Por que? Você me pergunta? Certo. Eu apenas ignoro as pessoas no qual eu não quero conversar, ou outra espécie de contato. Entende?
- Um dia você disse que seria... - eu parei quando Dudu entrou.
- Ei, vou indo. Vai agora? - Wendel perguntou a Dudu sem nem me notar.
- Não, vou depois mesmo. - ele respondeu e Wendel saiu.
Eu não me aguentei e cai no choro. Sem vergonha mesmo, fiz isso na frente de Dudu. Ele me olhou com a cabeça baixa, mas não disse nada.
Enfim, Vera estava dormindo, e minha mãe chamou para irmos lanchar.
- Vocês já ligaram para a mãe dela ? - minha mãe estava preocupada.
- Não, não. Deixa ela, ela não está nem aí pra filha dela. - respondeu Dudu.
- Que mãe! Vou dar uma olhadinha nela, e vou deitar um pouco. - minha mãe disse e saiu.
Eu e Dudu ficamos em silêncio por um momento, até que ele falou:
- Naquela hora que Wendel saiu, você chorou por ele não foi? - Dudu perguntava ainda sem olhar pra mim.
- Foi. - ele respondi, colocando o suco na mesa, já sem vontade de beber.
- Não fica assim. Vai passar. É recente a separação de vocês. Além do mais, você não está com a Bruna. Não era o que você mais queria ?
- Não, não estamos mais juntas. Eu vi que eu realmente gosto do Wendel. Não consigo ser feliz com outra pessoa, só Wendel me faz bem, só ele me conhece, sabe o que eu gosto, tudo sobre mim.
- Eu sei. Sempre coube que você gostava dele.
- Ele ainda gosta de mim? - eu perguntei, sabendo que a resposta poderia me doer, mas mesmo assim precisava saber.
- Não. Ele não quer mais nenhuma espécie de contato com você. Nada. Por isso não liga.
Meu coração parecia ter levado facadas e mais facadas naquela hora.
- Se fosse eu , no lugar da Vera, ele teria passado direto ? - eu perguntava com a voz trêmula, com algumas lágrimas já saindo dos meus olhos.
- Não sei mesmo. - ele disse, colocando o copo na pia, e subindo as escadas.

É, era meu fim mesmo. Sem Dudu, Vera e Wendel. Aqueles três inseparáveis de um tempo atrás...

Dudu acabou indo embora depois das 22hs. Ele disse que era para eu ligar pra ele, se acontecesse algo.
Para meu sossego, Vera dormiu a noite toda, e calmamente. Eu não consegui. Passei a noite na janela, lendo o livro que Wendel me deu. Senti uma porrada forte nas minhas costas, foi então que eu percebi que tinha caído da janela enquanto lia. O sol já estava ficando alto, então ainda estava amanhecendo.
Vera estava do mesmo jeito que eu deixei, então ela ficou tranquila a noite toda. Fui lanchar e minha mãe e meu pai não estavam mais ali. Enfim, fiquei sem ter o que fazer.
Subi, e pra minha surpresa, Vera entrava no banheiro. Ela estava tentando andar normal. observei, e qualquer movimento em falso, eu a seguraria. Ela entrou e quando ia fechando a porta, me viu. Ela sorriu, e entrou.
Enquanto ela estava lá dentro, eu arrumei a cama e peguei uma outra roupa para ela. Enquando trocava o lençol, ela saia do banheiro rindo.
- Essa que apareceu nesse espelho, sou eu mesma ?
- É amiga. Ai como é bom te ver assim, como você realmente é! - eu soltei as coisas, e fui dar uma braço nela
- Espera gata. Eu não sou assim. Sou mais bonita! - fiquei muito emocionada com aquele sorriso que não via há muito tempo.
- Comparada ao que eu vi na última vez, ou seja, ontem.
- Desculpa. Mas tenho uma explicação para isso.
- Depois você me diz, antes você vai comer algo.
Descemos e liguei para Dudu, que já estava a caminho. Agora não sabia se sozinho ou com Wendel.

Porque não se escolhe quem se ama / Cont..

Ela me perguntara uma coisa que nem eu mesma sabia responder. Gostava ? Sim, gostava. Mas não era paixão. Era outra coisa, agora não sei o quê.
- Bruna, não faço isso de propósito, ser esse fantoste. Mas é que... não sei! Acreditei tanto, apostei tanto na gente naquela primeira vez, sonhava na perfeição se um dai estivéssemos juntas. Hoje,eu vejo que não é nada daquilo que eu pensava. Gosto muito de estar com você, mas não é como antes...
- O que eu posso fazer? Como você gostaria que fosse?
- Não existe isso, como eu quero. O problema é que eu enxergo hoje, que era ilusão. Eu nunca me apaixonei por você de verdade. Era apenas coisa da minha cabeça. Infelizmente. Eu tento, com todas as minhas forças, gostar de você como antes, eu DEVO, mas não dá. Você não se compara com o carinho e amor que eu preciso.
- Você gosta de outra pessoa não é?
- Wendel acabou comigo. Acabou nossa amizade, nosso rolo. Acabou por descobrir que eu era gay. Ele antes me tratava como uma peça valiosa. Ele era a pessoa mais maravilhosa que conheci na minha vida. Fazia-me muito feliz, mas acabou nisso. E hoje, eu sinto falta do jeito dele, como ele era comigo. E vejo que ele é a pessoa certa pra mim. Que ele é a pessoa que eu realmente mais amo na vida.
- Por que não me disse antes?
- Porque eu tentei esquecer ele com você.
- Ca-ram-ba.
- É, assim como você fez comigo. Mas juro que não foi de propósito.
- Entendo. Então você ficaria bem se acabássemos?
- Sim, não faria diferença pra mim.
Senti que ela jamais esperaria isso de mim. Com certeza, ela pensava que eu iria me ajoelhar nos pés dela, pedindo pra ela nunca fazer aquilo, mas não foi o que aconteceu.
- Está bem. Vou cair fora.
Ela pegou a bolsa do celular, e saiu, com raiva na certa. Eu não faria nada. Que fosse então.


Agora sozinha mais uma vez. Karla era a única que eu conversava. E nem sabia onde ela morava ou o celular dela. Meus pais iam fazer as coisas deles. Pensei em ligar pra Dudu, mas não liguei, então resolvi ir a casa de Vera, saber se ela estava viva.
Já era noite, quando saí.
Na rua encontrei algumas pessoas que estudavam comigo, que agora sorriam para mim. Acenei, e eles me chamaram pra ficar com eles em um banco. Ainda conversei com eles por uns 15 minutos e segui meu rumo.
Vera estava no calçadão que tinha perto da casa dela, como dissera sua mãe. Era um lugar esquisito, tinha pessoas ali que não eram legais, como me dissera Vera uma vez. Será que era esse o lugar mesmo, ou Vera teria enganado a sua mãe pra poder ir a casa da.. sei ,á o que dela ?
Mesmo assim, ainda fui. Olhei do começo do calçadão, e realmente não parecia ser um bom lugar para namorar ou sossegar. Era escuro em algumas partes, e era enorme, lotado de pessoas diferentes, do jeito que você pode imaginar.
Não queria andar pelo calçadão, fui pela caçada que ficava do outro lado, olhando para todos os rostos que ali existiam. Reconheci ela pelos longos cabelos e a roupa que ela estava vestida da última vez que a vi. Se não fosse esses pequenos detalhes, jamais reconheceria aquela garota, que não saia sem maquiagem desde o tempo que a conheci.

Eu acabei atravessando, não aguentei vê-la naquele estado. Para minha sorte ela estava sozinha, bebendo algo. Eu ia tentar tirá-la de lá.
Quando cheguei mais perto, senti logo o cheiro terrível que ela estava, seu cabelo bagunçado, e sua roupa quase acabada. Acredito que ela tenha passado um longo tempo sem tomar banho. E a mãe dela? Aquela só dá importância a si própria.
- Vera, amiga? - Quando ela virou para mim, seu rosto estava sujo demais. Parecia ter sido pisoteada. Ela me viu e me abraçou, como se eu fosse uma luz no fim da caverna. Ela estava quase sem forças.- Vem comigo, vem.
Acho que ela só esperava disso, que alguém chamasse ela pra sair dali. Ela veio na boa. Me ofereceu a bebida que tinha no copo, mas eu rebolei. Ela mantinha o peso sobre mim enquanto andávamos. Eu tentei pegar dois taxi, mas nenhum parou. Eles não iam aceitar uma garota alcoolizada no carro, claro que não.

Porque não se escolhe quem se ama / Cont..

Nunca passei tanto tempo trancado no meu quarto, quanto naquele final de semana. Eu tinha prometido a mim mesma que iria sair, e curtir a vida, mas não dava assim. Bruna não entendia o por quê das minhas atitudes depressivas, mas tentava entender, e não colocar pressão para encontros.
Eu tentei ver filmes com ela, andar no shopping, ouvir músicas... mas literalmente, não dava. Ela não tinha o encanto, a alegria, "aquilo" que só Wendel tinha.
Ela era uma pessoa para relacionamento de namoro sim, mas não era do mesmo jeito que eu estava acostumada. Ela me tratava com carinho, tentava me fazer contente. Eu gostava de Bruna, não como antes, mas eu ainda gostava. Acredito que antes era apenas mais um desejo de tê-la comigo. E quando percebo meu sentimento, e ele começa a crescer, eu perco a alegria de viver.. eu perco meu amado.

" A chance de amar para sempre só bate uma vez na sua porta. Ela bateu na minha, e não dei a atenção que merecia. Depois que ela foi, percebi o maior erro da minha vida. Coração que não cura nem com quem diz me amar."


Eu peguei uma aproximação maior com Karla na semana que entrava. Ela ajudava a levantar minha estima, que se tornara cansativa. Já era um rotina: Eu acordava na hora de vir pra escola, passava a tarde na escola, e à noite Bruna passava um tempo comigo.
Karla tentava me tirar de casa, me levar pra sair, e me divertir. Tínhamos combinado de sair na quarta pro cinema. Ela queria levar um amigo dela para eu conhecer, mas dispensei o convite e o menino. Eu tinha contado a ela naquela tarde o fato de eu ser lésbica, e toda a minha história enrolada de amor. Ela achou bonita, e disse:
- Criei uma teoria para isso. Acredito que você pensou toda a sua pré-puberdade que gostava de garotas, mas depois disso, você descobriu que nada é o que você pensava. Você o via como amigo, e não como um homem, que você acreditava não sentir atração por eles, entende?
Realmente ela disse algo que eu já começara a acreditar há um tempo. Se alguém também pensava assim, então era porque realmente esse seria o verdadeiro fato.

Na aula, já não ouvia música alta em um fone de ouvido, e sim, escrevia frases e poemas em meu caderno.
- Ca-ram-ba! Você mesma que fez? - Karla se surpreendia enquanto eu pedia sua aprovação.
- Foi.
- Nossa! Devia mostrar isso para as pessoas, e até para ele. Eu sei que essa inspiração vem do teu coração apaixonado. Por que não faz um twitter? É ótimo para postar esses trechos.
Eu nem ligava mais minha internet, apenas para trabalhos. Resolvi fazer isso, e desabafar com pessoas que como eu, sentia uma dor, por não ter quem tanto ama.
Naquela quarta-feira, enquanto voltava da escola, vi Wendel com a tal garota novamente. Eles iam na minha frente, ela sorrindo de algo que ele tanto falava. Aquela sintonia que nós tínhamos, estava totalmente substituída por uma até mais forte. Ele parecia feliz, e apesar de gostar tanto dele, ficava com raiva dessa felicidade dele. Ele não poderia gostar de uma garota assim, não tão rápido. Onde estava aquele sentimento que ele sentia por mim? Onde?
Eles entraram numa casa na primeira rua, que com certeza era dela. Isso me matava. Filmes, debate de livros.. tudo seria com ela agora.

Quando cheguei em casa, minha mãe conversava com alguém na cozinha, e para minha surpresa, era Bruna. Elas sorriram, e Bruna subiu comigo para meu quarto.
- Que milagre aparecer cedo aqui. Que aconteceu? - eu perguntei, sem dá nenhuma atenção ao que ela falaria.
- Queria conversar com você.
- Hum... Sobre ?
- Nós duas.
- Certo, senta aqui.
O que seria? Eu não fazia nada de errado para que ela quisesse acabar comigo. Mas se quisesse acabar, que acabasse. Eu não ficaria pior.
- Porque assim... Você parece não estar feliz comigo. Você gostava tanto de mim, era tão especial, carinhosa naquela primeira vez. Era tão perfeita pra mim. Desculpe não ter te dado valor certo, mas agora eu tô tentando, e você nada faz. Parece mais um fantoste nesse nosso rolo. Isso me deixa, sei lá, confusa. Me responde uma coisa, você realmente gosta de mim?

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Porque não se escolhe quem se ama / cont...

Eu sabia qual era a tal pizzaria que Dudu levaria eles. Dudu só gostava de uma pizzaria daqui. Mas era longe, não daria para ir a pé.

- Mãe, vem me deixar naquela pizzaria que fica perto da casa da tia Rosa?
- Claro, vou só trocar de roupa.

Bom, eu ia ficar no meio da rua, observando a pizzaria do lado de fora à noite. Era algo arriscado, mas eu queria ver, afinal.
Eu fiquei na esquina, para que eles não me vissem. Eu ri de mim mesma, como uma idiota, era assim que eu estava agindo. Pelo vidro, eu vi Karla, a menina que eu tinha conversado hoje na escola. Ela estava com mais três meninas. Era a sorte sorrindo pra mim? Hum, talvez.
Entrei rápido para que ninguém me visse. Cheguei na mesa, sem reação, sem saber o que falar e como agir.
- Oi Alexandra. Meninas, essa é a menina que eu estava falando. Desculpa Alexandra, mas estava falando de você aqui.
- Espero que bem. - eu sorria e acenava para as outras meninas, que faziam o mesmo.
- Senta aqui com a gente. - falou uma loirinha que tava do lado dela.
Como a sorte estava ao meu favor!
- Bom, não queria incomodar. Eu tava passando na rua e vi a karla, então entrei.
- Mais um motivo. Senta aqui, já que você não está em nenhuma mesa.
Eu me sentei, claro. Procurei a mesa deles por todos os lados, mas eles ainda não tinham chegado.

Conversei muito com as meninas. Me senti a vontade como não me sentia há muito tempo. Até aprendi o nome das outras meninas. Eram Larissa, Raquel e Andressa. Bem divertidas.
Eles não apareceram, e estava na hora de irmos pra casa. Eu agradeci as meninas pela noite, e fui pra casa, de ônibus mesmo.
Dentro do ônibus, um homem me encarava, e isso me dava medo. Ele me torturava com os olhos. Na parada que ficava na rua de Bruna, eu desci, já que era mais claro.
Estava respingando um pouco, então mais uma vez subi o capuz. Passei em frente a casa de Wendel, olhando, na esperança dele não ter ido ao encontro, e estivesse na janela. Mas ele não estava. Passei pela casa de Bruna, ainda pensando em entrar, mas fui direto. Na pracinha da esquina, Wendel estava lá, com uma garota. Seria ela ? Eles não estavam abraçados, nem outra coisa, estavam apenas conversando.
Eu via nos olhos dele, o encanto de ouvir as palavras sairem da boca dela. Eram os mesmos olhos de umas semanas atrás, mesmos olhares que ele soltava pra mim.
É, Deus fez certo ao não deixar eles aparecerem na pizzaria. Ali já era doloroso ver a conversa, quanto mais lá.

Só peço forças para aguentar até o momento em que meu encanto por Bruna voltar. Forças, forças.. é tudo o que preciso.

Porque não se escolhe quem se ama / cont...

Como ele poderia estar mal, e fazendo aquilo comigo? Eu não entendia. Se ele gostava de mim, não era para estar assim, passar por mim, e fingir não me ver.
- Eu queria te avisar que hoje vou arranjar uma garota pra ele. Eu o chamei para irmos para a pizzaaria, e prometi levar uma amiga.
- O que? Não Dudu, não mesmo! Você não poder, poxa! Eu estou mal ca-ra, mal demais. Eu não queria te mostrar isso, pra você não vir com suas interrogações, mas eu realmente não estou legal por conta disso.
- Eu estou te avisando. Já arranjei a garota.
- Que espécie de amigo você é? Que apresenta uma garota pro cara que tua amiga gosta?
- Espera aí! Eu também sou amigo dele. Eu que te apresentei a ele, lembra?
- Mas sim, mesmo assim! Você...
- Gata, ele me ligou várias vezes a noite, pra saber de você , quando você ficava longe dele, quando você cansava dele. Ele me pedia ajudas e tudo mais. Ele desabafava comigo. Ele até me mostrou a música que fez para você, a tal música que você nem fez questão de mostrar para o amigo aqui não é?!
- Ah, desculpa. Eu esqueci! - realmente vacilei nisso.
- Tudo bem, tudo bem. Eu esqueci que você gostava dele quando arranjei a garota pra ele. Sinto muito, mas tenho que ir. Tenho um programa pra hoje à noite.
Dudu saiu com raiva de mim, quando na verdade era eu que era pra ficar mal.

Porque não se escolhe quem se ama / cont...

Eu procurei jogar tudo fora que me lembrava Wendel. Eu queria mesmo esquecer ele, tirá-lo da minha vida. Ele tinha nojo de mim não era? Então seria assim. A carta, o filme, o livro, foram todos para quarto em que minha mãe colocava as coisas que ela doaria depois.
Dudu veio em minha casa, e contei o acontecido, dessa vez sem chorar, sem mostrar estar mal. Eu mostrei estar feliz com Bruna, que era algo que eu não tinha certeza. Eu estava feliz? Ah, isso não importa, eu seria agora, amando e sendo amada.
- Eu sabia já. Wendel me ligou no mesmo dia que soube. Ele saiu da escola e foi na minha casa, conversar comigo, e saber da verdade. Eu até tentei mentir, mas não consegui. Ele ficou muito mal, até chorou Alê. Nunca tinha visto um homem chorar assim, nunca mesmo, ele gostava mesmo de você. Eu tentei convecê-lo de te perdoar, mas ele disse que essa era a pior mentira que ele poderia descobrir na vida. Ele pediu pra eu te ligar, pra você nem aparecer na casa dele ou então ele iria pra outro lugar, eu disse que já tinha ligado, para que você pudesse ter uma conversa com ele. Desculpa não ter vindo na tua casa, mas sei lá...
- Sem problemas, já passou não é?! Ok! Se ele realmente gostasse de mim, ele me entenderia e iria querer ao menos minha amizade, mas nem isso ele quer, fazer o que?!
- Ele gostava sim de você, mas entenda o lado dele né?
- Quando se gosta, não cria um preconceito assim, rápido como ele criou.
- Ele não criou preconceito, sei lá, ele criou raiva de você, só isso..
- Ah, que aconteceu? Está do lado dele agora?
- Me poupe né? Eu apenas entendi o que ele sentiu.
- Ele sentiu? Ele fingiu sentir.
- Você não julga ele assim. Ele realmente está mal
- Não está. Ele hoje passou por mim, nem me olhou! Passou direto como se fosse uma pessoa qualquer ali.
- Ah Alê, santa paciência. Você queria o que? Que ele te beijasse e abraçasse como se nada tivesse acontecido? Era?
- Não, mas ...
- Nada de mas.. Ele está certo, você vacilou. E ele ainda está mal viu? Tenha conciência disso.