sábado, 15 de maio de 2010

Porque não se escolhe quem se ama / Cont..

Quando Dudu chegou, Vera que foi atender o portão. Eles deram um abraço forte, e eu vi, que a briga boba deles, tinha ficado para trás. Depois Dudu falou comigo, mas não como antes, falou normal, um Oi apenas.
Ele trazia uma bolsa consigo, dizendo que tinha falado com a mãe de Vera, e sem ouvir o que ela tinha pra falar, ele saiu com as roupas pra ela ficar em algum lugar. E era óbvio que ela ficaria na minha casa por enquanto. A mãe dela acharia era bom.
- Eu acordei cedo, e fui lá pegar as coisas. Na hora que estava virando a esquina, Alê me liga. E agora, me responde, por quê você estava naquele estado ontem. Fazia quanto tempo que você bebia e não tomava banho?
- Faz dois dias. Quer dizer, fazia dois dias. Gente, eu tinha perdido a amizade de vocês. Eu estava sozinha, não estava ficando, namorando com ninguém. Então fui para aquele calçadão. Rolou beijo, drogas e bebidas, e quase sexo. Eu não estava normal, mas ficaria ali, até que alguém me aparecesse. Então, vocês me apareceram. Quer dizer, a Alê. Era só o que eu precisava. Eu realmente queria chamar atenção, dizer " OI, EU EXISTO!".
- Mas poderia ter me procurado. - eu disse.
- Desculpa gente. Desculpa. Espero que agora, possamos ser o que nós erámos antes. - ela estava chorando quando dizia isso.
- Vou limpar esses copos e pratos. - Dudu disse, se retirando da mesa. Com certeza ele não queria contar o que estava acontecendo.
- Amiga, temos muita coisa pra conversar.

Com aquilo, Dudu tinha me provado que nossa amizade, ele não queria mais. Não pelo menos a minha. Não queria mais nada no passado dele, nesse novo presente. Ele não queria, e com certeza Wendel também não ia querer.

Eu mesma acabei contando as coisas que andavam rolando nas últimas semanas para Vera, ela tentava me interromper, perguntando os "por quês", mas Dudu não deixava. Ele apenas ficava olhando as reações dela, que eram cada vez mais surpresas.
- Mas espera! Agora você deve parar tudo isso! Como estamos separados assim? Por que? Como você fez isso Dudu? Entre Alê e Wendel? - perguntava Vera, com as mãos na cabeça de tanta notícia.
- Ah, eu não tenho culpa. Ele estava na pior, eu era culpado em certa parte com isso. - tentava se explicar Dudu.
- Vera, isso não vem mais ao caso. Era isso que você devia saber. Eu tenho que tomar banho para ir pra aula. - eu disse, já subindo as escadas.

Meu quarto era um lugar que me deixava mais angustiada, ao invés de calma, como ele sempre fazia. Nem banho queria tomar. Queria fazer a mesma coisa que Vera fez, ir ali, e as pessoas sentirem pena de mim, e me tirar de lá. Vera foi socorrida. Eu fiz isso, Dudu fez... Wendel fez, por que não fariam comigo? Ah, já era loucura, não, esquece!
Desci as escadas com pressa, sem lembrar que eles estavam ali. Olhei para Vera, e ela chorava, mas meu horário não permitiu um minuto de consolo.
- Estou atrasada, qualquer coisa me liguem. Vocês sabem onde fica tudo aí, podem pegar. Beijos.

Assim que saí de casa, Karla passava de carro com a mãe dela, e me deu uma carona. Atrás estavam outras meninas que reconhecia os rostos na escola. Elas não eram garotas para conversar comigo, apenas falavam em shopping, roupas e academia.

- Elas realmente não fazem o teu tipo de conversa. - disse Karla quando saíamos do carro. As duas garotas já estavam mais na frente.
- Realmente. - eu disse, demonstrando dar interesse em uma conversa longa e feliz hoje.
- O que aconteceu ? Por que você está assim pra baixo ?
- Aim, nem eu sei. - não sei o que deu em mim, e joguei os livros no chão com raiva, e um desespero imenso de chorar.
As pessoas que passavam perto, me olhavam como se eu fosse a louca, o que realmente era o que se dava para ver, eu era a louca. Me deu vontade de gritar "O que estão olhando?", mas aquilo ia me deixar com mais aparência de anormal.
Apanhei os livros, antes que mais pessoas parassem e me olhassem da mesma maneira. Karla me puxava pelo braço, quando eu quase fui atropelada por uma motocicleta.
- Menina, tá louca ? Quer morrer é? - Karla parecia Wendel falando.
Que péssimo, agora tudo era ele.
- Seria bem melhor. Ao menos eu não ia ver quem eu tanto gosto me ignorando de um jeito mais estúpido.
- Mulher, vem comigo. Não vale chorar e falar da tua vida assim pra todo mundo.
Então fomos parar no banheiro. Eu sentada em um vaso chorando, e ela limpando minhas lágrimas.
- Vamos, o sino tocou. - eu dizia, sabendo que ia continuar chorando.
- Nada disso. Pedi uma menina pra falar ao professor que vamos chegar atrasadas. Não se preocupe. - disse Karla, ainda limpando a maquiagem que continuava borrada.
No banheiro, chorava contando o acontecido para Karla. Ela realmente queria me ajudar, mas como ela mesma disse, não sabia como. E haveria como? Achava que não.
Fomos pra sala na segunda aula, depois de eu tanto dizer que estava bem pra Karla. Achava engraçado que todos não sabiam nem disfarçar que olhavam para mim. Não sabia se era pelo estresse lá fora, ou se era por meus olhos estarem tão inchados de tanto chorar. Como era aula de história, eu fiquei conversando com Karla.
Estavámos lanchando quando Karla começou a sentir umas dores fortes, que não sabia explicar onde era. Ela começou a sentir na cantina, mas na sala, as dores pioraram. Eu acabei ligando para os pais dela, que chegaram em cinco minutos. Entrei tanto em desespero quanto eles, e pedi pra ir junto, mas claro, eles não deixaram. Pela rápida conversa com o diretor, eles falavam da doença que ela tinha.
- Claro! O câncer!
Fiquei mais nervosa ainda, sem saber como ficar, agir, o que fazer. As coisas dela ainda tinham ficado na escola, então fui atrás do número dos pais dela pra saber qual o hospital que ele iriam. No caderno não tinha, e o celular, estava no bolso da calça dela. Tentei lembrar das pistas, mas nada saia.
Já era para estar em sala, mas fui falar com alguém que conhecia bem ela. Para minha sorte, achei logo as meninas que vinham no carro com a gente de manhã, e elas disseram o hospital que o pai dela trabalhava.

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